
Concílo de Trento
Apesar do movimento luterano ter iniciado em 1517 e toda a Igreja sentir a necessidade urgente de uma reforma “na cabeça e nos membros”, muitos obstáculos se antepunham à convocação de um Concílio Ecumênico: a Cúria romana temia perder privilégios, o papa receava o Conciliarismo (teoria pela qual o Concílio está acima do papa), a França queria abater a hegemonia européia do Império Romano Germânico e os príncipes protestantes não pretendiam devolver os bens conquistados.
Após duas tentativas do Papa Paulo III, somente em 1544, com a paz entre o imperador Carlos V e o rei francês Francisco I, criaram-se condições favoráveis e, com a Bula “Laetare Jerusalem”, foi convocado o Concílio para o ano seguinte, em Trento, território feudal neutro.
Foi uma história demorada, com muitos conflitos de interesses, a oposição sistemática de príncipes protestantes, violentos escritos de Lutero no início e desacordos entre o papa e o imperador. Contudo, os 18 anos de duração do Concílio ofereceram à Igreja verdadeiros instrumentos de renovação e reforma, dando-lhe uma fisionomia que, em linhas gerais, ainda perdura.
• PRIMEIRA FASE (1545-1547): foram enfrentados, ao mesmo tempo, as questões dogmáticas e disciplinares. Contudo, devido ao medo de uma invasão de príncipes protestantes e às ingerências do Imperador, Paulo III suspendeu o Concílio. Temas tratados: a Escritura e a Tradição como fontes da fé; o pecado original, a doutrina da justificação, dos sacramentos em geral e do batismo e confirmação em particular. Os titulares de benefícios eclesiásticos (bispos, cardeais, abades, padres) sãoobrigados a residir onde tinham sido nomeados.
• SEGUNDA FASE (1551-1552): o Papa Júlio III reabriu a Assembléia conciliar. Compareceram os delegados de três príncipes e seis cidades protestantes alemãs, exigindo a anulação da sessão anterior e a proclamação da superioridade do Concílio sobre o papa. Pelo temor de ataques militares, o Concílio foi novamente suspenso. Temas tratados: a eucaristia e os sacramentos da penitência e da extremaunção.
• TERCEIRA FASE (1561-1563): foi marcada pela presença do enérgico Pio IV, ajudado pelo sobrinho Carlos Borromeu, futuro arcebispo de Milão. Discutiu-se muito sobre o tema do episcopado: como conciliar os direitos dos bispos com o pri-mado papal? Os bispos foram instituídos por Cristo ou são representantes do papa? Deixa-se de lado a discussão doutrinal aumentando-se a autoridade dos bispos em suas dioceses. Define-se a hierarquia: bispos, sacerdotes e diáconos são de origem divina.
Temas tratados: a eucaristia e a missa. Proibiu-se a comunhão sob duas espécies e rejeitou-se a língua vernácula na liturgia. Reafirmou-se a sacramentalidade e indissolubilidade do matrimônio, as indulgências, o culto dos santos, das relíquias e das imagens. Decisões disciplinares: cada diocese devia ter seu seminário e selecionar melhor seus candidatos ao sacerdócio. Bispos e cardeais eram proibidos de serem titulares de mais de uma diocese.