quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Humanismo 1

A Idade Média (476-1453) marcou uma série de mudanças na sociedade, algumas das quais sentimos ainda hoje seus impactos. Conhecido também como Idade das Trevas esse período histórico concretizou sistemas políticos e iniciou o processo que suscitou a efetivação das bases do capitalismo. Além disso a Idade Média foi marcada também pela construção de concepções ideológicas que serviram para introduzir o Homem no contexto social e filosófico da humanidade.
A Igreja Católica, além de possuir o domínio territorial em grande parte da Europa, tinha também o poder de estabelecer os critérios e os rumos para a pesquisa científica. Praticamente todo pensamento científico da Idade Média estava subordinado aos interesses da religião. Para solidificar sua ideologia religiosa a Igreja difundia a teoria teocêntrica, onde defendia que Deus seria a explicação para a origem e o destino dos seres humanos, por exemplo. O Homem estava submetido ao poder de Deus, enquanto este guiava o rumo de sua vida. Sempre colocado pela religião em segundo plano, o Homem era um agente passivo mediante o poder divino que concretizava alianças monárquicas e militares e incitava a caça aos hereges.
Todo esse poder exercido pela Igreja foi, ao longo dos anos, ganhando força, enquanto espalhava seus domínios pelo continente europeu. Entretanto, quando as bases do sistema feudal começavam a ruir, movimentos revoltosos de camponeses eclodiam em alguns pontos da Europa. Começariam a surgir questionamentos sobre o teocentrismo e o Homem passava então a pensar o mundo sob o ponto de vista Humanista.
A teoria Humanista veio surgir somente no início do século XIV quando o italiano Francesco Petrarca (1304-1374) colocou o homem como centro de toda ação e como agente principal no processo de mudanças sociais. Essa posição de alguns pensadores causou impactos na Igreja. No entanto o humanismo em nenhum momento renegou o catolicismo. Humanistas como Petrarca eram religiosos, porém não aceitavam apenas uma explicação como verdade plena.
O pensamento Humanista baseou-se no antropocentrismo. Se antes Deus e a Igreja guiavam o Homem e seus passos, agora o Homem, por si só, obedecia a reflexão mais aprofundada para discenir seus caminhos. O pensamento Humanista fez ressurgir na cultura européia a filosofia greco-romana. Não obstante o grande avanço do pensamento Humanista, este restringiu-se à filosofia e à literatura, não englobando outros setores como as artes plásticas, por exemplo.
Petrarca, como fundador do Humanismo, é figura central no processo de revolução do pensamento europeu que culminou com o movimento conhecido como Iluminismo. Foi ele o primeiro humanista do Renascimento.
humanismo

INTRODUÇÃO
Humanismo é o nome que se dá à produção escrita histórica literária do final da Idade Média e início da Moderna , ou seja , parte do século XV e início do XVI , mais precisamente , de 1434 a 1527 . Três atividades mais destacadas compôs esse período : a produção historiográfica de Fernão Lopes , a produção poética dos nobres , por isso dita Poesia Palaciana , e a atividade teatral de Gil Vicente .
CONTEXTO HISTÓRICO
No final do século XV , a Europa passava por grandes mudanças , provocadas por invenções como a bússola , pela expansão marítima que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do comércio com a substituição da economia de subsistência , levando a agricultura a se tornar mais intensiva e regular . Deu-se o crescimento urbano , especialmente das cidades portuárias , o florescimento de pequenas indústrias e todas as demais mudanças econômicas provenientes do Mercantilismo , inclusive o surgimento da burguesia .
Todas essas alterações foram agilizadas com o surgimento dos humanistas , estudiosos da cultura clássica antiga . Alguns eram ligados à Igreja ; outros , artistas ou historiadores , independentes ou protegidos pro mecenas. Esses estudiosos tiveram uma importância muito grande porque divulgaram , de forma mais sistemáticas , os novos conceitos , além de identificaram e valorizarem direitos dos cidadãos . Acabaram por situar o homem como senhor de seu próprio destino e elegeram-no como a razão de todo conhecimento , estabelecendo , para ele , um papel de destaque no processo universal e histórico .
Essas mudanças na consciência popular , aliadas ao fortalecimento da burguesia , graças à intensificação das atividades agrícolas , industriais e comerciais , foram , lenta e gradativamente , minando a estrutura e o espírito medievais .
Em Portugal , todas essas alterações se fizeram sentir , evidentemente , ainda que algumas pudessem chegar ali com menor força ou , talvez , difusas , sobretudo porque o impacto maior vivido pelos portugueses foi proporcionado pela Revolução de Avis ( 1383-1385 ), na qual D. João , mestre de Avis , foi ungido rei , após liderar o povo contra injunções de Castela .
Alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam sua influência no rumo que as manifestações artísticas tomaram em Portugal . São eles : as mudanças processadas no país pela Revolução de Avis ; os efeitos mercantilistas ; a conquista de Ceuta ( 1415 ) , fato que daria início a um século de expansionismo lusitano ; o envolvimento do homem comum com uma vida mais prática e menos lirismo cortês , morto em 1325 ; o interesse de novos nobres e reis por produções literárias diferentes do lirismo . Tudo isso explica a restrição do espaço para o exercício e a manifestação da imaginação poética , a marginalização da arte lírica e o fim do Trovadorismo . A partir daí , o ambiente se tornou mais propício à crônica e à prosa histórica , ao menos nas primeiras décadas do período .
CARACTERÍSTICAS
Culturalmente , a melhoria técnica da imprensa propiciou uma divulgação mais ampla e rápida do livro , democratizando um pouco o acesso a ele . O homem desse período passa a se interessar mais pelo saber , convivendo com a palavra escrita . Adquire novas idéias e outras culturas como a greco-latina .
Mas , sobretudo , o homem percebe-se capaz , importante e agente . Acreditando-se dotado de "livre arbítrio", isto é , capacidade de decisão sobre a própria vida , não mais determinada por Deus , afasta-se do teocentrismo , assumindo , lentamente , um comportamento baseado no antropocentrismo . Isto implica profundas transformações culturais . De uma postura religiosa e mística , o homem passa gradativamente a uma posição racionalista
O Humanismo funcionará como um período de transição entre duas posturas . Por isso , a arte da época é marcada pela convivência de elementos espiritualistas ( teocêntricos ) e terrenos ( antropocêntricos ) .
A historiografia , a poesia , a prosa doutrinária e o teatro apresentaram características específicas . ';
PROSA DOUTRINÁRIA
Com o aumento de interesse pela leitura , houve um significativo e rápido crescimento da cultura com o surgimento de bibliotecas e a intensificação de traduções de obras religiosas e profanas , além da atualização de escritos antigos . Esse envolvimento com o saber atingiu também a nobreza , a ponto de as crônicas históricas passarem a ser escritas pelos próprios reis , especialmente da dinastia de Avis , com os exemplos de D. João I , D.Duarte e D. Pedro .
Essa produção recebeu o nome de doutrinária , porque incluíam a atitude de transmitir ensinamentos sobre certas prática diárias , e sobre a vida . Alguns exemplos : Ensinança de bem cavalgar toda sela , em que se faz o elogio do esporte e da disciplina moral , e Leal Conselheiro , em que se estabelecem princípios de conduta moral para a nobreza m ambos de D. Duarte ; livro de Montaria ( D.João I ) sobre a caça ; e outros .
POESIA PALACIANA
Conforme já dito no capítulo relativo às crônicas históricas , o Mercantilismo e outros acontecimentos de âmbito português modificaram o gosto literário do público , diminuindo-o quanto à produção lírica , o que manteve a poesia enfraquecida durante um século ( mais ou menos de 1350 a 1450 ) . No entanto , em Portugal , graças à preferência do rei D.Afonso V ( 1438-1481) , abriu-se um espaço na corte lusitana para a prática lírica e poética . Assim , essa atividade literária sobreviveu em Portugal , ainda que num espaço restrito , e recebeu o nome de Poesia Palaciana , também identificada por quatrocentista.
Essa produção poética tem uma certa limitação quanto aos conteúdos , temas e visão de mundo , porque seus autores , nobres e fidalgos , abordavam apenas realidades palacianas , como assuntos de montaria , festas , comportamentos em palácios , modas , trajes e outras banalidades sem implicação histórica abrangente . O amor era tratado de forma mais sensual do que no Trovadorismo , sendo menos intensa a idealização da mulher . Também , neste gênero poético , ocorre a sátira .
Formalmente são superiores à poesia trovadoresca , seja pela extensão dos poemas graças à cultura dos autores , seja pelo grau de inspiração , seja pela musicalidade ou mesmo pela variedade do metro estes dois últimos recursos conferiam a cada poema a chance de possuírem ritmo próprio . Os versos continuavam a ser as redondilhas e era normal o uso do mote . A diferença mais significativa em relação às cantigas do Trovadorismo é que as poesias palacianas foram desligadas da música , ou seja , o texto poético passou a ser feito para a leitura e declamação , não mais para o canto .
Renascimento cultural e artístico 1



O termo renascimento, ou renascença, faz referência a um movimento intelectual e artístico surgido na Itália, entre os séculos XIV e XVI, e daí difundido por toda a Europa. À concepção medieval do mundo se contrapõe uma nova visão, empírica e científica, do homem e da natureza.
A idéia de um 'renascimento' ocorrido nas artes e na cultura relaciona-se à revalorização do pensamento e da arte da Antigüidade clássica e à formação de uma cultura humanista. A obra do pintor, arquiteto e teórico Giorgio Vasari (1511-1574) constitui a principal fonte de informação acerca da arte renascentista italiana. A renovação das artes ocorrida na Itália, segundo o seu célebre Vida dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos (1550; 2ª edição 1568), tem como ponto de apoio a recusa do antinaturalismo da tradição bizantina e, paralelamente, a redescoberta da escultura clássica operada por Nicola Pisano no sarcófago de Pisa. A visão de Vasari sobre a história da arte italiana como progresso, com seu ápice no século XV, fornece as balizas para os juízos críticos posteriores.
A noção de renascimento tal como a entendemos hoje, é estabelecida pelo historiador suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) em seu livro A cultura do Renascimento na Itália (1867), que define o período como de grande florescimento do espírito humano, espécie de "descoberta do mundo e do homem".
É possível afirmar, sem entrar na discussão dos limites cronológicos do renascimento, que os artistas do período se orientam por ideais de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça - representados com o auxílio dos sentidos de simetria e proporção das figuras - de acordo com os parâmetros ditados pelo belo clássico. Algumas obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) exemplificam a realização do modelo clássico, seja nos estudos de anatomia para composições maiores (Estudo para uma das Sibilas no teto da capela Sistina), seja em esculturas, como o célebre Davi (1501/1504). As imagens de Rafael (1483-1520), por sua vez, dão plena expressão aos valores da arte renascentista, destacando-se pela beleza projetada segundo os padrões idealizados do universo clássico (A Ninfa Galatéia, ca.1514). O desenvolvimento das pesquisas científicas, por sua vez, fornecem subsídios para a produção de novos métodos e técnicas. A perspectiva, impulsionada por Filippo Brunelleschi (1377-1446) e descrita por Leon Battista Alberti (1404-1472) no tratado Della Pittura (1435), altera de modo radical os modos de representação e as concepções de espaço. A nova ciência da perspectiva é colocada em prática por uma série de artistas. Masaccio (1401-1428) é considerado exímio na aplicação das conquistas científicas à arte da representação. A primeira obra a ele atribuída, o tríptico de San Giovenale (Uffizi, Florença, 1422), é exemplar de como conseguir criar um sentido coerente de terceira dimensão sobre a superfície bidimensional.
A cidade de Florença no século XV é tida como berço do movimento, lugar onde se realizam algumas das obras mais inovadoras do renascimento.
Os nomes de Donatello (ca.1386-1466), Leonardo da Vinci (1452-1519), além dos já mencionados Rafael, Masaccio e Brunelleschi figuram entre os maiores representantes da arte renascentista. Donatello é um dos responsáveis pela criação do estilo renascentista escultórico em Florença. Destaca-se, segundo Vasari, pela "força emocional" de seus trabalhos, como pode ser observado nas figuras feitas para os nichos do Or San Michele e para a Catedral de Florença. O bronze Davi (ca.1430), de sua autoria, é considerado a primeira figura nua em tamanho natural feita desde a Antigüidade clássica. Michelangelo, herdeiro de Donatello, conhece a fama em função de duas esculturas: Baco (Bargello, Florença, ca.1496/1497) e Pietà (S. Pedro, Roma, 1498/1499). Esta última se notabiliza pela solução bela e harmoniosa que o artista encontra para a imagem trágica do cristo morto deitado no colo da madona. A maestria técnica de Michelangelo pode ser observada no afresco feito para o forro da Capela Sistina (1508/1512), considerado uma das obras-primas da arte pictórica.
Leonardo é autor de obra artística e científica, célebre por seus escritos, pelos retratos e pela invenção da técnica do sfumato, em que se vale da justaposição matizada de tons e cores diferentes, de modo que se aproximem, "sem limites ou bordas, à maneira da fumaça", nas palavras do próprio artista. Com isso Leonardo logra suavizar os contornos característicos da pintura do início do século XV, revelando as potencialidades da tinta a óleo. No período florentino, entre 1500 e 1506, realiza os célebres Mona Lisa, a pintura mural da Batalha de Anghiari (Pallazio Vecchio, Florença) destruída e preservada em cópias feitas por outros artistas - que influenciará os pintores de batalhas até o século XIX - e A Virgem e o Menino com Sant'Ana, tratando de tema que o fascinava na época. O sorriso enigmático, as sombras, o dedo indicador elevado e as fartas cabeleiras são traços salientes dos retratos de Leonardo, repetidos pelos seguidores. Rafael sofre influências de Leonardo e Michelangelo. Datam do período florentino, algumas de suas mais célebres representações da Virgem com o Menino (Madona Sistina, ca.1512-1514). Nestas imagens, assim como em pinturas da Sagrada Família, exercita sua maestria de composição e expressão, representando as figuras sagradas como seres humanos. Os retratos de Rafael são comparados aos de Leonardo, pelo estilo sutil das caracterizações e aos de Ticiano (ca.1488-1576), em função das cores empregadas. Os ideais renascentistas encontram seguidores por toda a Europa: Albrecht Dürer (1471-1528), Lucas van Leyden (ca.1494-1533), Quinten Metsys (1466-1530), Jan van Scorel (1495-1562), entre outros. A expressão máxima da crise dos valores e princípios do renascimento, segundo algumas leituras, pode ser encontrada no maneirismo.
Index Librorum Proibitorum

O Index Librorum Prohibitorum ou Index Librorvm Prohibithorvm ("Índice dos Livros Proibidos" ou "Lista dos Livros Proibidos" em português) foi uma lista de publicações proibidas pela Igreja Católica, de "livros perniciosos" contendo ainda as regras da igreja relativamente a livros.
História
O objetivo do Index Librorvm Prohibithorvm inicialmente era reagir contra o avanço do protestantismo, sendo criado em 1559 no Concílio de Trento (1545-1563), e ficando sob a administração da Inquisição ou Santo Ofício. Esta lista continha os livros ou de obras que se opusessem a doutrina da Igreja Católica e deste modo "prevenir a corrupção dos fiéis".
Teve um grande efeito por todo o mundo católico. Por muitos anos, em áreas tão diversas como o Quebec, Portugal, Brasil ou a Polonia, era muito difícil de encontrar cópias de livros banidos, especialmente fora das grandes cidades.
O índice foi abolido em 1966 pelo Papa Paulo VI, sendo anunciado formalmente em 15 de junho de 1966 no jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, através de um documento chamado de "Notificação" escrito no dia anterior.
Ações da Igreja Católica na Contra-Reforma

Ordem dos Jesuítas
No ano de 1540, o papa Paulo III aprovou a criação da ordem dos jesuítas ou Companhia de Jesus, fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, em 1534.
Inspirando-se na estrutura militar, os jesuítas consideravam-se os "soldados da Igreja", cuja missão era combater a expansão do protestantismo. O combate deveria ser travado com as armas do espírito, e para isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico, Os Exércitos Espirituais, propondo a conversão das pessoas ao catolicismo, mediante técnicas de contemplação.
A criação de escolas religiosas também foi um dos instrumentos da estratégia dos jesuítas. Outra arma utilizada foi a catequese dos não-cristãos, com os jesuítas empenhando-se em converter ao catolicismo os povos dos continentes recém-descobertos. O Objetivo era expandir o domínio católico para os demais continentes.
Concílio de Trento
No ano de 1545, o papa Paulo III convocou um concílio (reunião de bispos), cujas primeiras reuniões foram realizadas na cidade de Trento, na Itália. Ao final de longos anos de trabalho, terminados em 1563, o concílio apresentou um conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica.
Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como por exemplo:
I. a salvação humana: depende da fé e das boas obras humanas. Rejeita-se, portanto a doutrina da predestinação;
II. a fonte da fé: o dogma religioso tem como fonte a Bíblia (cabendo à Igreja dar-lhe a interpretação correta) e a tradição religiosa (conservada e transmitida pela igreja). O papa reafirmava sua posição de sucessor de Pedro, a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja;
III. a missa e a presença de Cristo: a Igreja reafirmou que n ato da eucaristia ocorria a presença de Jesus no Pão e no Vinho. Essa presença real de Cristo era rejeitada pelos protestantes.
O Concílio de Trento determinou, ainda, a elaboração de um catecismo com os pontos fundamentais da doutrina católica, a criação de seminários para a formação dos sacerdotes e manutenção dos celibatos sacerdotal.
No ano de 1231, a Igreja católica havia criado os tribunais da Inquisição, que, com o tempo, reduziram suas atividades em diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a Igreja reativou, em meados do século XVI, a Inquisição. Esta passou a se encarregar, por exemplo, de organizar uma lista de livros proibidos aos católicos, o Index librorum prohibitorum. Uma das primeiras relações de livros proibidos foi publicada em 1564.
Contra-Reforma


No início do século XVI, a mudança na mentalidade das sociedades européias repercutiu também no campo religioso. A Igreja, tão onipotente na Europa medieval, foi duramente criticada.
A instituição católica estava em descompasso com as transformações de seu tempo. Por exemplo, condenava o luxo excessivo e a especulação.
Além disso, uma série de questões propriamente religiosas colocavam a Igreja como alvo da crítica da sociedade: a corrupção do alto clero, a ignorância religiosa dos padres comuns e os novos estudos teológicos.
As graves críticas a Igreja já não permitiam apenas consertar internamente a casa. As insatisfações acumulram-se de tal maneira que desencadearam um movimento de ruptura na unidade cristã: a Reforma Protestante.
Assim, a Reforma foi motivada por um complexo de causa que ultrapassaram os limites da mera contestação religiosa. Vejamos detalhadamente algumas dessas causas.
Novas interpretações da Bíblia
Com a difusão da imprensa, aumentou o número de exemplares da Bíblia disponíveis aos estudiosos, e um clima de reflexão crítica e de inquietação espiritual espalhou-se entre os cristãos europeus. Surgia, assim, uma nova vontade individual de entender as verdades divinas, sem a intermediação dos padres.
Desse novo espírito de interiorização da religião, que levou ao livre exame das Escrituras, nasceram diferentes interpretações da doutrina cristã. Nesse sentido, podemos citar, por exemplo, uma corrente religiosa que, apoiada na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação do homem seria alcançada somente pela fé. Essas idéias opunham0se à posição oficial da Igreja, baseada em Santo Tomás de Aquino, pela qual a salvação do homem era alcançada pela fé e pelas boas obras.
Corrupção do Clero
Analisando o comportamento do clero, diversos cristãos passaram a condenar energicamente os abusos e as corrupções. O alto clero de Roma estimulava negócios envolvendo religião, como, por exemplo, a simonia (venda de objetos sagrados) tais como espinhos falsos, que coroaram a fronte de Cristo, panos que teriam embebido o sangue de seu rosto, objetos pessoais dos santos, etc.
Além do comércio de relíquias sagradas, a Igreja passou a vender indulgências (o perdão dos pecados). Mediante certo pagamento destinado a financiar obras da Igreja, os fiéis poderiam "comprar" a sua salvação.
No plano moral, inúmeros membros da Igreja também eram objeto de críticas. Multiplicavam-se os casos de padres envolvidos em escândalos amorosos, de monges bêbados e de bispos que vendiam os sacramentos, acumulando riquezas pessoais.
Esse mau comportamento do clero representava sério problema ético-religioso, pois a Igreja dizia que os sacerdotes eram os intermediários entre os homens e Deus.
Nova ética religiosa
A Igreja católica, durante o período medieval, condenava o lucro excessivo (a usura) e defendia o preço justo. Essa moral econômica entrava em choque com a ganância da burguesia. Grande número de comerciantes não se sentia à vontade para tirar o o lucro máximo nos negócios, pois temiam ir para o inferno.
Os defensores dos grandes lucros econômicos necessitavam de uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista comercial. Essa necessidade da burguesia foi atendida, em grande parte, pela ética protestante, que surgiu com a Reforma.
Sentimento nacionalista
Com o fortalecimento das monarquias nacionais, os reis passaram a encara a Igreja, que tinha sede em Roma e utilizava o latim, como entidade estrangeira que interferia em seus países. A Igreja, por seu lado, insistia em se apresentar como instituição universal que unia o mundo cristão.
Essa noção de universalidade, entretanto, perdia força à medida que crescia o sentimento nacionalista. Cada Estado, com sua língua, seu povo e suas tradições, estava mais interessado em afirmar as diferenças do que as semelhanças em relação a outros Estados. A Reforma Protestante correspondeu a esses interesses nacionalistas. A doutrina cristã dos reformadores, por exemplo, foi divulgada na língua nacional de cada país e não tem latim, o idioma oficial da Igreja católica.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Evangelho Segundo Maria Madalena
O Evangelho Segundo Maria Madalena
Salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."
Pedro lhe disse: “Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do mundo?" Jesus disse: "Não há pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua origem."
Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.", pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas." Após dizer tudo isto partiu.
Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: "Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao Reino do Filho do Homem? Se eles não o procuraram, vão poupar a nós?" Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens". Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.
Pedro disse a Maria: "Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Contam-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras àquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos."
Maria Madalena respondeu dizendo: “Esclarecerei a vós o que está oculto". E ela começou a falar essas palavras: "Eu", disse ela, "eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa visão'. Ele respondeu e me disse: 'Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado a me ver. Pois, onde está à mente há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou como espírito? ' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos - assim é que tem a visão [...]".
E o desejo disse à alma: 'Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?' A alma respondeu e disse: 'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste. ' Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. "De novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância. A potência inquiriu a alma dizendo: 'Aonde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues! ' E a alma disse: ' Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais. ' "Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta é a comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas perguntaram à alma: ´De onde vens devoradora de homens, ou aonde vais, conquistadora do espaço?' A alma respondeu dizendo: ' O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. “Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno’.”
Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos: "Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas". Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador: "Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?" Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou."
Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
Apócrifos do Novo Testamento
Apócrifos do Novo Testamento
Praticamente todos os textos apócrifos do Novo Testamento são pseudo-epígrafes, ou seja, são textos que clamam ter sido escritos por alguém que não os escreveu. Dividem-se em várias categorias, como evangelhos da infância, evangelhos judeu-cristãos, evangelhos rivais aos canônicos, visões, cartas, textos gnósticos, etc.
Evangelhos da Infância
A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no 2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor, nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.
• Proto-evangelho de Tiago - Também chamado de Evangelho de Tiago, ou Evangelho de Tiago da Infância, foi escrito provavelmente em torno de 150 d.C. O documento se apresenta como tendo sido escrito por Tiago, passando por Tiago o Justo, irmão de Jesus. O livro contém três partes de oito capítulos cada, iniciando-se com a estória do nascimento e infância de Maria e consagração ao templo, a segunda parte conta a crise causada por Maria se tornar mulher e, portanto sua iminente contaminação do templo e a designação de José como seu guardião e os testes de sua virgindade, e por fim relata o nascimento de Jesus em uma caverna, com a visita de parteiras, escondendo Jesus de Herodes o Grande em uma manjedoura, e também o martírio de Zacarias pai de João o Batista durante o massacre das crianças, e como João o Batista e sua mãe foram escondidos de Herodes Antipas nas montanhas.
• Evangelho de Tomé da Infância - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O autor deste evangelho é desconhecido. A data provável de sua escrita está entre 80 e 185 d.C. e descreve a vida do menino Jesus, com eventos extravagantes sendo alguns deles malévolos. Em um dos episódios Jesus está fazendo pássaros de barro, os quais em seguida ganham vida. Este ato é também atribuído a Jesus no Corão. Em outro episódio uma criança espalha a água que Jesus está juntando. Jesus então amaldiçoa a criança que murcha até morrer.
• Evangelho do Pseudo-Mateus - Também chamado de Nascimento de Maria e Infância do Salvador, ou de Evangelho de Mateus da Infância. É uma composição em latim do 4º ou 5º século d.C. Este texto tem autoria, mas clama ter sido escrito por Mateus e traduzido por Jerônimo. O seu conteúdo é basicamente uma reprodução editada do Proto-evangelho de Tiago, seguida da fuga para o Egito, e de uma reprodução editada do Evangelho de Tomé da Infância. É nele que primeiramente se menciona um boi e um burro como estando presentes no nascimento de Jesus.
• Evangelho Arábico da Infância - Foi compilado, provavelmente, no 6º século d.C. e se baseia no Evangelho de Tomé da Infância e no Proto-evangelho de Tiago. Consiste de três partes: O nascimento de Jesus, os milagres durante a fuga para o Egito e os milagres de Jesus como menino. Partes da narrativa deste evangelho, especialmente a segunda parte (os milagres no Egito), também podem ser encontrados no Corão.
• Outros evangelhos da Infância - A Vida de João o Batista, supostamente escrito pelo bispo Serapião em 390 d.C. e A História de José o Carpinteiro, provavelmente composto no 5º século d.C. no Egito.
Evangelhos Judeu-Cristãos
Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo, especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por criar evangelhos segundo suas próprias crenças.
A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo, também tratados em I Coríntios 1:12 e 3:4 como "os que são de Paulo".
• Evangelho dos Hebreus - Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas, apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o "pão nosso de cada dia", por "pão para amanhã".
Epifânio, em seu trabalho afirma:
Eles dizem que Cristo não foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos... que ele domina sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: "Eu vim para fazer com que cessem os sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não cessará".
• Evangelho dos Nazarenos - Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
• Evangelho do Ebionitas - Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos. Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua "parte divina".
Evangelhos rivais dos Evangelhos canônicos
Muitas versões alternativas, grandemente editadas, de evangelhos existiram durante os primórdios do Cristianismo. Estas alterações normalmente serviam para dar suporte a alguma visão religiosa particular, em geral, considerada herética pela igreja primitiva.
• Evangelho de Marcion - Também conhecido como Evangelho do Senhor foi um texto usado em meados do segundo século por Marcion excluindo os outros evangelhos. Este evangelho sobrevive apenas em citações de seus críticos, contudo é possível através destas citações se reconstruir praticamente todo o seu texto original. Este evangelho se baseia no Evangelho canônico de Lucas, tendo sido editado para se acomodar à teologia de Marcion, por exemplo, os dois primeiros capítulos de Lucas, sobre o nascimento de Jesus e o início em Cafarnaum foram eliminados e foram feitas modificações no restante para acomodar o Marcionismo, por exemplo, em Lucas 10:21temos "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra", em Marcion se lê: "Graças dou, Pai, Senhor do céu", destacando a visão gnóstica de que a terra é má, logo, Deus não é seu Senhor.
• Evangelho de Mani - Este evangelho escrito por Mani, um persa que viveu no 3º século d.C. Ele tentou fazer uma síntese das correntes religiosas de sua época: cristianismo, zoroastrismo e budismo, produzindo com isto um novo evangelho. O texto se parece mais com um comentário dos evangelhos do que uma nova testemunha. Mani, afirma ser profeta e apóstolo, como em: "Eu, Mani, o Apóstolo de Jesus o Amigo, pela vontade do Pai, o verdadeiro Deus, por quem comecei...".
Evangelhos de Logia (ou de dizeres, frases e parábolas curtas)
• Evangelho de Tomé - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé da Infância. Este é um evangelho gnóstico que foi encontrado em 1945 nas cavernas de Nag Hammadi, em um manuscrito copta. Diferentemente dos evangelhos canônicos, este não traz uma narrativa conectada aos dizeres atribuídos a Jesus. É apenas uma coleção de dizeres e parábolas que teriam sido proferidos por Jesus, alguns diálogos com o Senhor, e dizeres que alguns dos discípulos teriam reportado a Tomé, chamado Dídimo. A obra consiste de 114 dizeres atribuídos a Jesus, alguns dos quais lembram as falas do Senhor nos evangelhos canônicos. No 4º século, Cirilo de Jerusalém mencionou o Evangelho de Tomé, nos seguintes termos: "Não permita que ninguém leia o evangelho segundo Tomé, porque esta obra, não é de um dos doze apóstolos, mas de um dos três perniciosos discípulos de Mani". Contudo, os textos em Nag Hammadi são certamente mais antigos que a época de Mani. Os críticos tendem a datar este Evangelho no final do primeiro século.
Em um de seus ditos (v.70) encontramos Jesus dizendo que a salvação está no interior do ser humano: "Se colocardes para fora o que está em vosso interior, o que tendes vos salvará. Se não o colocardes para fora, o que tendes em vosso interior vos matará". No v.3, temos: "O Reino de Deus está dentro de vós".
Escritos como este evangelho são certamente a razão para a igreja ter buscado estabelecer de forma oficial o cânon do Novo Testamento. Estabelecendo a crença na morte e na ressurreição do Senhor como o coração da mensagem proclamada pela Igreja desde o seu início no livro de Atos dos Apóstolos.
• Evangelho de Felipe - É um evangelho gnóstico datado do 2º ou 3º século, de autor desconhecido. Similarmente ao evangelho gnóstico de Tomé este também é um evangelho de dizeres, ou falas atribuídas ao Senhor, algumas das quais lembram as palavras do Senhor encontradas nos evangelhos canônicos. Entre seus ditos encontramos: "Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, mas o homem livre não peca, porque 'Aquele que peca é escravo do pecado'. A verdade é a mãe, o conhecimento o pai". E ainda: "Jesus veio para crucificar o mundo".
Evangelhos Morais
Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos, estes são os evangelhos morais.
• Evangelho dos Egípcios (em Grego) - Não deve ser confundido com o Evangelho dos Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a discípula de Jesus, Salomé (Marcos 15:40) e Jesus, que advoga a causa do celibato, como comenta Cameron: "cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como seu estado primordial de androgenia" (Cameron 1982).
• Evangelho de Tomé, o contendor - Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: "As palavras secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi, enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro". Este escrito foi achado na biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um estado de luxúria.
Evangelhos da Paixão
São evangelhos que tratam especificamente da questão da morte e da ressurreição de Jesus.
• Evangelho de Pedro - O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: "muito dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo".
• Atos de Pilatos - Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão) acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento que eram justos.
• Evangelho de Bartolomeu - As primeiras referências a este texto foram feitas por Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé, mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
• Questões de Bartolomeu - Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu. O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno, por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente, Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais com Satanás.
Atos dos Apóstolos de Leucius
São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em oposição aos Ebionitas.
• Atos de João - É uma coleção de narrativas e tradições do 2º século d.C. inspirada no evangelho canônico de João. Alguns atribuem sua autoria a Prócoro, um dos diáconos selecionados em Atos 6. Este livro apresenta duas viagens de João a Éfeso, cheias de eventos dramáticos, milagres como o colapso do templo de Ártemis, assim como também apresenta João pregando no teatro para convencer os seguidores de Ártemis. Contém também o episódio da última ceia com a "dança de roda da cruz" que teria sido instituída por Jesus, dizendo: "Antes de eu ser entregue a eles, cantemos um hino ao Pai e assim sigamos a ver o que mente diante de nós", direcionou para que fosse formado um círculo ao redor dele, dando-se as mãos e dançando. Os apóstolos gritaram "Amém" ao hino de Jesus.
• Atos de Paulo - É um dos maiores textos apócrifos do Novo Testamento. Foi escrito no final do 2º século d.C. O texto era composto de:
o Atos de Paulo e Thecla - Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando "a palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição". Thecla, é uma virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é enterrada com Paulo.
o Epístola dos Coríntios a Paulo - Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa, que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista), que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
o Terceira Epístola aos Coríntios - Este texto foi posteriormente separado dos Atos de Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em 170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios. (canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus" (I Co.15:50), pela qual alguns diziam que a ressurreição não seria corporal.
o O Martírio de Paulo - Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.
• Atos de Pedro - Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo. No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
• Atos de André - É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro, descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é capaz de pregar sermões por três dias.
• Atos de Tomé - Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia. Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.
Extratos das vidas dos Apóstolos
• Atos de Pedro e André - Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que faz parte dos Atos de André).
• Atos de Pedro e os Doze - O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas (Mateus 13:44ss.) mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, "Nove Portões", e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões. O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
• Atos de Pedro e Paulo - Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga tradição da igreja.
• Atos de Felipe - Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.
Epístolas
Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas, muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.
• Epístola de Barnabé - É um apócrifo encontrado no Códice Sinaíticus do 4º século. Não deve ser confundido com o medieval Evangelho de Barnabé. Esta é uma pseudo-epígrafe de autoria desconhecida, provavelmente escrita no início do 2º século. O texto apesar de não ser gnóstico em um sentido heterodoxo, clama a que sua audiência busque um perfeito conhecimento (conhecimento especial). A obra é mais um tratado, ou homilia, que uma epístola. Sua lógica não é das mais primorosas, e sua mensagem não traz novidades. É interessante que a epístola cita o Evangelho de Mateus (canônico) como Escritura, contudo, também cita provavelmente IV Esdras e certamente I Enoque. Em certo ponto parece advogar que o povo Cristão é o único verdadeiro povo da aliança, e que os judeus nunca haviam estado em uma aliança com Deus.
• I Clemente - É uma carta de autoria incerta, endereçada como sendo da "igreja de Deus que está em Roma para a igreja de Deus que está em Corinto". Sua datação tradicional está colocada em 96 d.C. A carta é motivada por uma disputa em Corinto, que excluiu do serviço vários presbíteros, mas já que nenhum foi acusado de problemas morais a carta advoga que foram afastados injustamente. A carta cita em profusão o Antigo Testamento, algumas cartas de Paulo e algumas falas do Senhor Jesus, e está incluída no Códice Alexandrinus do 5º século. Apesar de não conter problemas doutrinários, e de ser lida em várias igrejas, jamais atingiu os requisitos canônicos, especialmente por sua autoria desconhecida.
• II Clemente - Esta homilia foi escrita em Roma em meados do 2º século, sendo uma pseudo-epígrafe que tradicionalmente era atribuída a Clemente de Roma. Suas citações aparentemente derivam do Evangelho dos Egípcios em Grego.
• Epistola dos Coríntios a Paulo - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
• Epístola aos Laodicenses - Curta epístola encontrada apenas em algumas edições da Vulgata em latim, e em nenhum manuscrito grego. Ela se faz passar pela epístola de Paulo à igreja de Laodicéia mencionada em sua Epístola aos Colossenses (4:16), carta esta perdida, apesar de alguns suporem se tratar da Epístola canônica aos Efésios. É quase que unanimemente considerada uma pseudo-epígrafe, constituindo-se de um pastiche de frases tomadas de epístolas genuínas do apóstolo Paulo.
• Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem - Consiste de uma série de oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
• III Coríntios - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
Apocalipses
• Apocalipse de Pedro - Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro. Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson afirma: "O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda epístola de Pedro... Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de Sibeline... É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo... E direta ou indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais do outro mundo".
• Apocalipse de Paulo - Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
• Apocalipse de Tomé - Aparentemente foi composto originalmente em latim em data desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos virão à Terra.
• Apocalipse de Estevão - Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
• I Apocalipse de Tiago - É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
• II Apocalipse de Tiago - Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico, apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.
Livros dos Pais da Igreja
Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos (especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.
• I Clemente - Já citada acima.
• O Pastor de Hermas - Ou simplesmente "O Pastor". É uma obra Cristã do 2º século, considerada um livro valioso por muitos Cristãos, tendo sido considerada como canônica por alguns pais da igreja. Alguns atribuem sua autoria a Hermas (Rm.16:14). Mas, há grande controvérsia a este respeito. Trata-se de uma alegoria Cristã consistindo de cinco visões dadas a Hermas, um ex-escravo, seguidas de doze mandamentos, e dez parábolas. Apesar da seriedade dos assuntos tratados, o livro foi escrito em um tom otimista e esperançoso, como muitos dos escritos dos primeiros Cristãos. Tem vários e sérios problemas, especialmente quanto à questão da Trindade, e à noção de que a Igreja é uma instituição necessária à salvação.
• Didaquê - Antes considerado como perdido, o Didaquê, ou Ensino dos Apóstolos, foi redescoberto em 1883 no Códice Hierosolymitanus de 1053. O texto foi provavelmente escrito já no 1º século, mas tem autoria incerta. O conteúdo pode ser dividido em quatro partes: Os dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da morte (1-6), rituais de batismo, jejum e comunhão (7-10), o ministério e como lidar com os ministros itinerantes (11-15) e um breve apocalipse (16). Há no texto, tal qual o recebemos, claros sinais de que foi editado posteriormente para se adequar a certas questões eclesiológicas, como o batismo por aspersão.
Evangelhos Harmônicos
Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o Diatessaron:
• Diatessaron - Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.
Livros Perdidos
Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma parte conhecida do texto sobreviveu.
• Evangelho de Matias
• Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
• Evangelho da Perfeição
• Evangelho de Eva - Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
• Evangelho dos Doze
• Evangelho de Tadeu - Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
• Memória Apostólica
• Evangelho dos Setenta
• Lápide dos Apóstolos
• Livro dos feitiços das serpentes
• Porção dos Apóstolos
Praticamente todos os textos apócrifos do Novo Testamento são pseudo-epígrafes, ou seja, são textos que clamam ter sido escritos por alguém que não os escreveu. Dividem-se em várias categorias, como evangelhos da infância, evangelhos judeu-cristãos, evangelhos rivais aos canônicos, visões, cartas, textos gnósticos, etc.
Evangelhos da Infância
A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no 2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor, nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.
• Proto-evangelho de Tiago - Também chamado de Evangelho de Tiago, ou Evangelho de Tiago da Infância, foi escrito provavelmente em torno de 150 d.C. O documento se apresenta como tendo sido escrito por Tiago, passando por Tiago o Justo, irmão de Jesus. O livro contém três partes de oito capítulos cada, iniciando-se com a estória do nascimento e infância de Maria e consagração ao templo, a segunda parte conta a crise causada por Maria se tornar mulher e, portanto sua iminente contaminação do templo e a designação de José como seu guardião e os testes de sua virgindade, e por fim relata o nascimento de Jesus em uma caverna, com a visita de parteiras, escondendo Jesus de Herodes o Grande em uma manjedoura, e também o martírio de Zacarias pai de João o Batista durante o massacre das crianças, e como João o Batista e sua mãe foram escondidos de Herodes Antipas nas montanhas.
• Evangelho de Tomé da Infância - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O autor deste evangelho é desconhecido. A data provável de sua escrita está entre 80 e 185 d.C. e descreve a vida do menino Jesus, com eventos extravagantes sendo alguns deles malévolos. Em um dos episódios Jesus está fazendo pássaros de barro, os quais em seguida ganham vida. Este ato é também atribuído a Jesus no Corão. Em outro episódio uma criança espalha a água que Jesus está juntando. Jesus então amaldiçoa a criança que murcha até morrer.
• Evangelho do Pseudo-Mateus - Também chamado de Nascimento de Maria e Infância do Salvador, ou de Evangelho de Mateus da Infância. É uma composição em latim do 4º ou 5º século d.C. Este texto tem autoria, mas clama ter sido escrito por Mateus e traduzido por Jerônimo. O seu conteúdo é basicamente uma reprodução editada do Proto-evangelho de Tiago, seguida da fuga para o Egito, e de uma reprodução editada do Evangelho de Tomé da Infância. É nele que primeiramente se menciona um boi e um burro como estando presentes no nascimento de Jesus.
• Evangelho Arábico da Infância - Foi compilado, provavelmente, no 6º século d.C. e se baseia no Evangelho de Tomé da Infância e no Proto-evangelho de Tiago. Consiste de três partes: O nascimento de Jesus, os milagres durante a fuga para o Egito e os milagres de Jesus como menino. Partes da narrativa deste evangelho, especialmente a segunda parte (os milagres no Egito), também podem ser encontrados no Corão.
• Outros evangelhos da Infância - A Vida de João o Batista, supostamente escrito pelo bispo Serapião em 390 d.C. e A História de José o Carpinteiro, provavelmente composto no 5º século d.C. no Egito.
Evangelhos Judeu-Cristãos
Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo, especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por criar evangelhos segundo suas próprias crenças.
A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo, também tratados em I Coríntios 1:12 e 3:4 como "os que são de Paulo".
• Evangelho dos Hebreus - Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas, apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o "pão nosso de cada dia", por "pão para amanhã".
Epifânio, em seu trabalho afirma:
Eles dizem que Cristo não foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos... que ele domina sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: "Eu vim para fazer com que cessem os sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não cessará".
• Evangelho dos Nazarenos - Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
• Evangelho do Ebionitas - Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos. Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua "parte divina".
Evangelhos rivais dos Evangelhos canônicos
Muitas versões alternativas, grandemente editadas, de evangelhos existiram durante os primórdios do Cristianismo. Estas alterações normalmente serviam para dar suporte a alguma visão religiosa particular, em geral, considerada herética pela igreja primitiva.
• Evangelho de Marcion - Também conhecido como Evangelho do Senhor foi um texto usado em meados do segundo século por Marcion excluindo os outros evangelhos. Este evangelho sobrevive apenas em citações de seus críticos, contudo é possível através destas citações se reconstruir praticamente todo o seu texto original. Este evangelho se baseia no Evangelho canônico de Lucas, tendo sido editado para se acomodar à teologia de Marcion, por exemplo, os dois primeiros capítulos de Lucas, sobre o nascimento de Jesus e o início em Cafarnaum foram eliminados e foram feitas modificações no restante para acomodar o Marcionismo, por exemplo, em Lucas 10:21temos "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra", em Marcion se lê: "Graças dou, Pai, Senhor do céu", destacando a visão gnóstica de que a terra é má, logo, Deus não é seu Senhor.
• Evangelho de Mani - Este evangelho escrito por Mani, um persa que viveu no 3º século d.C. Ele tentou fazer uma síntese das correntes religiosas de sua época: cristianismo, zoroastrismo e budismo, produzindo com isto um novo evangelho. O texto se parece mais com um comentário dos evangelhos do que uma nova testemunha. Mani, afirma ser profeta e apóstolo, como em: "Eu, Mani, o Apóstolo de Jesus o Amigo, pela vontade do Pai, o verdadeiro Deus, por quem comecei...".
Evangelhos de Logia (ou de dizeres, frases e parábolas curtas)
• Evangelho de Tomé - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé da Infância. Este é um evangelho gnóstico que foi encontrado em 1945 nas cavernas de Nag Hammadi, em um manuscrito copta. Diferentemente dos evangelhos canônicos, este não traz uma narrativa conectada aos dizeres atribuídos a Jesus. É apenas uma coleção de dizeres e parábolas que teriam sido proferidos por Jesus, alguns diálogos com o Senhor, e dizeres que alguns dos discípulos teriam reportado a Tomé, chamado Dídimo. A obra consiste de 114 dizeres atribuídos a Jesus, alguns dos quais lembram as falas do Senhor nos evangelhos canônicos. No 4º século, Cirilo de Jerusalém mencionou o Evangelho de Tomé, nos seguintes termos: "Não permita que ninguém leia o evangelho segundo Tomé, porque esta obra, não é de um dos doze apóstolos, mas de um dos três perniciosos discípulos de Mani". Contudo, os textos em Nag Hammadi são certamente mais antigos que a época de Mani. Os críticos tendem a datar este Evangelho no final do primeiro século.
Em um de seus ditos (v.70) encontramos Jesus dizendo que a salvação está no interior do ser humano: "Se colocardes para fora o que está em vosso interior, o que tendes vos salvará. Se não o colocardes para fora, o que tendes em vosso interior vos matará". No v.3, temos: "O Reino de Deus está dentro de vós".
Escritos como este evangelho são certamente a razão para a igreja ter buscado estabelecer de forma oficial o cânon do Novo Testamento. Estabelecendo a crença na morte e na ressurreição do Senhor como o coração da mensagem proclamada pela Igreja desde o seu início no livro de Atos dos Apóstolos.
• Evangelho de Felipe - É um evangelho gnóstico datado do 2º ou 3º século, de autor desconhecido. Similarmente ao evangelho gnóstico de Tomé este também é um evangelho de dizeres, ou falas atribuídas ao Senhor, algumas das quais lembram as palavras do Senhor encontradas nos evangelhos canônicos. Entre seus ditos encontramos: "Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, mas o homem livre não peca, porque 'Aquele que peca é escravo do pecado'. A verdade é a mãe, o conhecimento o pai". E ainda: "Jesus veio para crucificar o mundo".
Evangelhos Morais
Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos, estes são os evangelhos morais.
• Evangelho dos Egípcios (em Grego) - Não deve ser confundido com o Evangelho dos Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a discípula de Jesus, Salomé (Marcos 15:40) e Jesus, que advoga a causa do celibato, como comenta Cameron: "cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como seu estado primordial de androgenia" (Cameron 1982).
• Evangelho de Tomé, o contendor - Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: "As palavras secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi, enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro". Este escrito foi achado na biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um estado de luxúria.
Evangelhos da Paixão
São evangelhos que tratam especificamente da questão da morte e da ressurreição de Jesus.
• Evangelho de Pedro - O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: "muito dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo".
• Atos de Pilatos - Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão) acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento que eram justos.
• Evangelho de Bartolomeu - As primeiras referências a este texto foram feitas por Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé, mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
• Questões de Bartolomeu - Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu. O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno, por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente, Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais com Satanás.
Atos dos Apóstolos de Leucius
São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em oposição aos Ebionitas.
• Atos de João - É uma coleção de narrativas e tradições do 2º século d.C. inspirada no evangelho canônico de João. Alguns atribuem sua autoria a Prócoro, um dos diáconos selecionados em Atos 6. Este livro apresenta duas viagens de João a Éfeso, cheias de eventos dramáticos, milagres como o colapso do templo de Ártemis, assim como também apresenta João pregando no teatro para convencer os seguidores de Ártemis. Contém também o episódio da última ceia com a "dança de roda da cruz" que teria sido instituída por Jesus, dizendo: "Antes de eu ser entregue a eles, cantemos um hino ao Pai e assim sigamos a ver o que mente diante de nós", direcionou para que fosse formado um círculo ao redor dele, dando-se as mãos e dançando. Os apóstolos gritaram "Amém" ao hino de Jesus.
• Atos de Paulo - É um dos maiores textos apócrifos do Novo Testamento. Foi escrito no final do 2º século d.C. O texto era composto de:
o Atos de Paulo e Thecla - Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando "a palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição". Thecla, é uma virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é enterrada com Paulo.
o Epístola dos Coríntios a Paulo - Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa, que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista), que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
o Terceira Epístola aos Coríntios - Este texto foi posteriormente separado dos Atos de Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em 170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios. (canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus" (I Co.15:50), pela qual alguns diziam que a ressurreição não seria corporal.
o O Martírio de Paulo - Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.
• Atos de Pedro - Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo. No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
• Atos de André - É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro, descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é capaz de pregar sermões por três dias.
• Atos de Tomé - Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia. Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.
Extratos das vidas dos Apóstolos
• Atos de Pedro e André - Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que faz parte dos Atos de André).
• Atos de Pedro e os Doze - O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas (Mateus 13:44ss.) mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, "Nove Portões", e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões. O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
• Atos de Pedro e Paulo - Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga tradição da igreja.
• Atos de Felipe - Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.
Epístolas
Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas, muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.
• Epístola de Barnabé - É um apócrifo encontrado no Códice Sinaíticus do 4º século. Não deve ser confundido com o medieval Evangelho de Barnabé. Esta é uma pseudo-epígrafe de autoria desconhecida, provavelmente escrita no início do 2º século. O texto apesar de não ser gnóstico em um sentido heterodoxo, clama a que sua audiência busque um perfeito conhecimento (conhecimento especial). A obra é mais um tratado, ou homilia, que uma epístola. Sua lógica não é das mais primorosas, e sua mensagem não traz novidades. É interessante que a epístola cita o Evangelho de Mateus (canônico) como Escritura, contudo, também cita provavelmente IV Esdras e certamente I Enoque. Em certo ponto parece advogar que o povo Cristão é o único verdadeiro povo da aliança, e que os judeus nunca haviam estado em uma aliança com Deus.
• I Clemente - É uma carta de autoria incerta, endereçada como sendo da "igreja de Deus que está em Roma para a igreja de Deus que está em Corinto". Sua datação tradicional está colocada em 96 d.C. A carta é motivada por uma disputa em Corinto, que excluiu do serviço vários presbíteros, mas já que nenhum foi acusado de problemas morais a carta advoga que foram afastados injustamente. A carta cita em profusão o Antigo Testamento, algumas cartas de Paulo e algumas falas do Senhor Jesus, e está incluída no Códice Alexandrinus do 5º século. Apesar de não conter problemas doutrinários, e de ser lida em várias igrejas, jamais atingiu os requisitos canônicos, especialmente por sua autoria desconhecida.
• II Clemente - Esta homilia foi escrita em Roma em meados do 2º século, sendo uma pseudo-epígrafe que tradicionalmente era atribuída a Clemente de Roma. Suas citações aparentemente derivam do Evangelho dos Egípcios em Grego.
• Epistola dos Coríntios a Paulo - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
• Epístola aos Laodicenses - Curta epístola encontrada apenas em algumas edições da Vulgata em latim, e em nenhum manuscrito grego. Ela se faz passar pela epístola de Paulo à igreja de Laodicéia mencionada em sua Epístola aos Colossenses (4:16), carta esta perdida, apesar de alguns suporem se tratar da Epístola canônica aos Efésios. É quase que unanimemente considerada uma pseudo-epígrafe, constituindo-se de um pastiche de frases tomadas de epístolas genuínas do apóstolo Paulo.
• Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem - Consiste de uma série de oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
• III Coríntios - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
Apocalipses
• Apocalipse de Pedro - Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro. Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson afirma: "O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda epístola de Pedro... Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de Sibeline... É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo... E direta ou indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais do outro mundo".
• Apocalipse de Paulo - Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
• Apocalipse de Tomé - Aparentemente foi composto originalmente em latim em data desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos virão à Terra.
• Apocalipse de Estevão - Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
• I Apocalipse de Tiago - É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
• II Apocalipse de Tiago - Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico, apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.
Livros dos Pais da Igreja
Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos (especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.
• I Clemente - Já citada acima.
• O Pastor de Hermas - Ou simplesmente "O Pastor". É uma obra Cristã do 2º século, considerada um livro valioso por muitos Cristãos, tendo sido considerada como canônica por alguns pais da igreja. Alguns atribuem sua autoria a Hermas (Rm.16:14). Mas, há grande controvérsia a este respeito. Trata-se de uma alegoria Cristã consistindo de cinco visões dadas a Hermas, um ex-escravo, seguidas de doze mandamentos, e dez parábolas. Apesar da seriedade dos assuntos tratados, o livro foi escrito em um tom otimista e esperançoso, como muitos dos escritos dos primeiros Cristãos. Tem vários e sérios problemas, especialmente quanto à questão da Trindade, e à noção de que a Igreja é uma instituição necessária à salvação.
• Didaquê - Antes considerado como perdido, o Didaquê, ou Ensino dos Apóstolos, foi redescoberto em 1883 no Códice Hierosolymitanus de 1053. O texto foi provavelmente escrito já no 1º século, mas tem autoria incerta. O conteúdo pode ser dividido em quatro partes: Os dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da morte (1-6), rituais de batismo, jejum e comunhão (7-10), o ministério e como lidar com os ministros itinerantes (11-15) e um breve apocalipse (16). Há no texto, tal qual o recebemos, claros sinais de que foi editado posteriormente para se adequar a certas questões eclesiológicas, como o batismo por aspersão.
Evangelhos Harmônicos
Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o Diatessaron:
• Diatessaron - Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.
Livros Perdidos
Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma parte conhecida do texto sobreviveu.
• Evangelho de Matias
• Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
• Evangelho da Perfeição
• Evangelho de Eva - Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
• Evangelho dos Doze
• Evangelho de Tadeu - Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
• Memória Apostólica
• Evangelho dos Setenta
• Lápide dos Apóstolos
• Livro dos feitiços das serpentes
• Porção dos Apóstolos
Evangelhos Apócrifos

Provavelmente você já ouviu falar nos “Evangelhos Apócrifos”. Mas que significado tem a palavra “apócrifo”? Apócrifos são chamados os livros que apesar de atribuídos a um autor sagrado, não são aceitos como canônicos. E qual o exato significado da palavra “canônico”? A palavra deriva de “Cânon”, que é o catálogo de Livros Sagrados admitidos pela Igreja Católica.
Sendo assim, que critério a Igreja Católica se utilizou para decidir se um livro, supostamente escrito por um autor sagrado, tem caráter apócrifo ou canônico?
Quando exploramos o assunto, vemos que a “escolha” é feita pela fé, para não dizer conveniência. Os Livros Canônicos são os livros escritos por inspiração Divina. Mas de que forma podem saber quais foram e quais não foram inspirados por Deus?
O que é ainda mais interessante neste assunto é que a própria Igreja reconhece que boa parte desses Evangelhos Apócrifos foram elaborados por autores sagrados. Por que então não são incluídos na “categoria” bíblica? E o que é mais estranho, por que foram perseguidos e condenados durante séculos?
Com o passar dos séculos, o termo Apócrifo foi ganhando outros significados. Na antiguidade, designava obras de uso exclusivo de seitas ou escolhas iniciáticas de mistério. Mais tarde adquiriu o significado de livro de origem duvidosa, ou, segundo o Médio Dicionário Aurélio: “Diz-se obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se provou.”
É certo que deve ser muito difícil para a Igreja separar os textos que relatam os fatos da Vida e Obra do Mestre Jesus dos que contam histórias sem autenticidade. Porém, a própria Instituição reconhece hoje em dia o valor de algumas destas obras, ou Evangelhos Apócrifos, os quais nos contam algumas passagens da Natividade, Infância e pregação do Avatar e sua progenitora.
Hoje, a Igreja Católica reconhece como parte da tradição, os Evangelhos Apócrifos de Tiago, Matheus, O Livro sobre a Natividade de Maria, o Evangelho de Pedro e o Armênio e Árabe da Infância de Jesus, além dos evangelhistas “aceitos”.
A maior parte destes textos apareceu nos séculos II e IV e atualmente são considerados “apócrifos”. Na realidade, a única diferença entre eles e os quatro Evangelhos Canônicos resume-se ao fato de que “não foram inspirados por Deus”.
Estes Evangelhos considerados apócrifos foram publicados ao mesmo tempo que os que passam por canônicos, foram recebidos com igual respeito e idêntica confiança e, ainda, sendo citados preferencialmente nos primeiros séculos. Logo, o mesmo motivo que pesa em favor da autenticidade de uns, pesa também a favor de outros. No entanto, somente quatro são aceitos “oficialmente”. De onde os homens buscaram a prova de que estes últimos foram “divinamente inspirados”?
A admissão exclusiva dos quatro Evangelhos hoje aceitos se deu no século IV, no ano de 325 d.C., por ocasião do Concílio de Nicéia e depois referenciado em 363 d.C., no de Laodicéia, como nos é contado por Hollbach, no prólogo de sua ”História Crítica de Jesus Cristo”. No entanto, Irineu, que morrera mais ou menos no ano 200, já expressava sua preferência pelos quatro Evangelhos hoje aceitos como canônicos:
“O Evangelho é a coluna da Igreja, a Igreja extende-se pelo mundo todo, o mundo tem quatro regiôes e, portanto, convém que existam quatro Evangelhos...”
e mais:
“O Evangelho é o sopro ou vento divino da Vida para os homens e, como temos quatro ventos cardeais, necessitamos de quatro Evangelhos...”
e ainda:
“O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins tem quatro formas, e por isso o Verbo nos obsequiou com quatro Evangelhos...”
É com base nisso, que a Santíssima Igreja escolheu e separou os quatro Evangelhos hoje aceitos como divinamente inspirados, dos apócrifos?
Devemos lembrar que como Instituição, a Igreja tem seus erros e acertos pois apesar de ter os olhos do Senhor, é controlado por humanos. Portanto não nos esqueçamos que os Evangelhos Apócrifos, ou não aceitos, assim foram rotulados por humanos como nós, que enquanto nessa condição, incorrem em erros, ou os padres e bispos estão livres de erros?
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Angicanismo

Na Inglaterra percebemos um movimento reformista bastante peculiar. Desde meados do século XIV, o teólogo John Wyclif realizou duras críticas ao poder material da Igreja e fez a tradução da Bíblia para o inglês. Além dele, Thomas Morus também teceu críticas ao papel desempenhado pela Igreja Católica durante o século XVI.
No reinado de Henrique VIII, o Estado tinha controle sobre os cargos religiosos, nomeando padres, bispos e cardeais. Nesse período, as relações entre Henrique VIII e a Igreja chegava ao seu fim quando o papa se negou a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Dos cinco filhos que teve com Catarina, apenas uma menina havia sobrevivido.
Preocupado com a linha sucessória de sua dinastia, Henrique VIII desejou casar-se com Ana Bolena, buscando o nascimento de um herdeiro homem. Tendo negada a anulação de seu casamento, Henrique VIII resolveu criar uma nova instituição religiosa e anular os poderes da Igreja Católica na Inglaterra. Em 1534, o parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia que anunciou a criação da Igreja Anglicana.
O anglicanismo preservara os moldes hierárquicos e a adoração aos santos católicos. No que se refere às suas doutrinas, o anglicanismo incorporou alguns princípios calvinistas. Além disso, o poder exercido pela Igreja Anglicana concedeu condições para que o Estado se apropriasse das terras em posse dos clérigos católicos.
A partir dessas novas medidas estabelecidas pelo anglicanismo, o poder de influência da Igreja Católica sobre as questões do governo britânico sofreu uma grande limitação. Por outro lado, as características desta nova igreja cristã incentivaram a ampliação das atividades burguesas na Inglaterra.
Calvinismo

Ocorrido como um desdobramento da Reforma Luterana, o movimento Calvinista foi uma das principais religiões surgidas durante a Reforma Protestante. A Suíça, criada após sua separação do Império Romano-Germânico, em 1499, teve contato com as idéias de Martinho Lutero através da pregação feita pelo padre Ulrich Zwinglio.
Ao propagandear as doutrinas luteranas pela Suíça, Zwinglio desencadeou uma série de revoltas civis que questionavam as bases do poder vigente. A prática do zwinglianismo preparou terreno para a doutrina que seria mais tarde criada pelo francês João Calvino. Perseguido em sua terra natal, João Calvino refugiou-se na Suíça com o intuito de disseminar outra compreensão sobre as questões de fé levantadas por Martinho Lutero.
Segundo Calvino, o princípio da predestinação absoluta seria o responsável por explicar o destino dos homens na Terra. Tal princípio defendia a idéia de que, segundo a vontade de Deus, alguns escolhidos teriam direito à salvação eterna. Os sinais do favor de Deus estariam ligados a condução de uma vida materialmente próspera, ocupada pelo trabalho e afastada das ostentações materiais.
Em outras regiões da Europa o calvinismo ganhou diferentes nomes. Na Escócia, os calvinistas ficaram conhecidos como presbiterianos; na França como huguenotes; e na Inglaterra foram chamados de puritanos.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Evento do Blog

Concílo de Trento
Apesar do movimento luterano ter iniciado em 1517 e toda a Igreja sentir a necessidade urgente de uma reforma “na cabeça e nos membros”, muitos obstáculos se antepunham à convocação de um Concílio Ecumênico: a Cúria romana temia perder privilégios, o papa receava o Conciliarismo (teoria pela qual o Concílio está acima do papa), a França queria abater a hegemonia européia do Império Romano Germânico e os príncipes protestantes não pretendiam devolver os bens conquistados.
Após duas tentativas do Papa Paulo III, somente em 1544, com a paz entre o imperador Carlos V e o rei francês Francisco I, criaram-se condições favoráveis e, com a Bula “Laetare Jerusalem”, foi convocado o Concílio para o ano seguinte, em Trento, território feudal neutro.
Foi uma história demorada, com muitos conflitos de interesses, a oposição sistemática de príncipes protestantes, violentos escritos de Lutero no início e desacordos entre o papa e o imperador. Contudo, os 18 anos de duração do Concílio ofereceram à Igreja verdadeiros instrumentos de renovação e reforma, dando-lhe uma fisionomia que, em linhas gerais, ainda perdura.
• PRIMEIRA FASE (1545-1547): foram enfrentados, ao mesmo tempo, as questões dogmáticas e disciplinares. Contudo, devido ao medo de uma invasão de príncipes protestantes e às ingerências do Imperador, Paulo III suspendeu o Concílio. Temas tratados: a Escritura e a Tradição como fontes da fé; o pecado original, a doutrina da justificação, dos sacramentos em geral e do batismo e confirmação em particular. Os titulares de benefícios eclesiásticos (bispos, cardeais, abades, padres) sãoobrigados a residir onde tinham sido nomeados.
• SEGUNDA FASE (1551-1552): o Papa Júlio III reabriu a Assembléia conciliar. Compareceram os delegados de três príncipes e seis cidades protestantes alemãs, exigindo a anulação da sessão anterior e a proclamação da superioridade do Concílio sobre o papa. Pelo temor de ataques militares, o Concílio foi novamente suspenso. Temas tratados: a eucaristia e os sacramentos da penitência e da extremaunção.
• TERCEIRA FASE (1561-1563): foi marcada pela presença do enérgico Pio IV, ajudado pelo sobrinho Carlos Borromeu, futuro arcebispo de Milão. Discutiu-se muito sobre o tema do episcopado: como conciliar os direitos dos bispos com o pri-mado papal? Os bispos foram instituídos por Cristo ou são representantes do papa? Deixa-se de lado a discussão doutrinal aumentando-se a autoridade dos bispos em suas dioceses. Define-se a hierarquia: bispos, sacerdotes e diáconos são de origem divina.
Temas tratados: a eucaristia e a missa. Proibiu-se a comunhão sob duas espécies e rejeitou-se a língua vernácula na liturgia. Reafirmou-se a sacramentalidade e indissolubilidade do matrimônio, as indulgências, o culto dos santos, das relíquias e das imagens. Decisões disciplinares: cada diocese devia ter seu seminário e selecionar melhor seus candidatos ao sacerdócio. Bispos e cardeais eram proibidos de serem titulares de mais de uma diocese.
Pessoa do Blog




Galileu Galilei
Galileu Galilei,o primogênito de Giulia Ammannati e Vicenzio Galilei,nasceu em 15 de fevereiro de 1564,em Pisa.A família de Galileu era florentina e pertencia á burguesia comercial da cidade.Em virtude da crise econômica da metade do século XVI,o músico Vicenzio se viu obrigado a se mudar para Pisa,onde se casou.Além de Galileu,Vicenzio teve seis filhos(2 meninos e 4 meninas,dos quais chegaram á idade adulta apenas Michelangelo,Virgínia e Lívia. Aos 17 anos,Galileu e matriculado na Faculdade de Artes de Pisa,para cursar Medicina,onde os ensinos ainda eram guiados pelas idéias de Galeno.
Depois de 5 anos na Faculdade de Artes,Galileu vai para Florença onde faz seu primeiro invento,a balnça hidrodástica.Para sobreviver,Galileu dá aulas de Matemáticaem Florença e Siena e em 1588 .Nos três anos em que foi professor de Matemática da Universidade de Pisa,Galileu escreveu vários textos em que reuniu e os nomeou de De Motus.Depois de estudar por vários anos estudando as idéias geocêntricas dos aristélicos,Galileu conseguiu conter as idéias de Aristóteles uma por uma.Primeiro,conseguiu provar que a idéia de Aristóteles que objetos maiores caem mais depressa e objetos maiores caem mais devagar estava errada fazndo o seguinte expermento:ele jogou do alto da torre de Pisa dois objetos de pesos e tamanhos deiferentes e viu que os dois caem no mesmo tempo.
Em 1609 chega aos ouvidos de Galileu que construiram na Holanda um tubo óptico que pode aproximar a visão de objetos distantes.Imediatamente se lança á terfa de construir um igual.Depois que construiu,Galileu oferece o instrumento á Republica de Veneza.E em 1610 Galileu publica o pequeno Siderus nuncius,no qual descreve a uma Europa boquiaberta a suas descobertas entre elas estão:
1-A Lua,comoa Terra,possui vales e montanhas,ou seja ,possui um relevo acidentado e não é lisa e polida como parece ao olho nu.
2-As nebulosas e avia Láctea possui incontáveisestrelas e elas possuem uma enorme distância entre si,de modo que não existe uma esfera última de estrelas fixas.
3-Ao passo que a Terra possui uma Lua,Júpiter possui quatro satélites-denominados por Galileu de estrela medicéias ,uma homenagem ao grão duque de Toscana.Essa observação permite dar plausibilidade á hipótese copernicana que a Lua acompanha a Lua em seu giro ao redoe do Sol.
Ao apresentar isto á Igreja ela ficou escandalizada com as idéias de que o Sol era o centro do univeros e não a Terra.Galileu foi advertido pela Inquisição e foi obrigado a parar de difundir suas idéias,mas asituação mudou quando o seu amigo,cardeal Maffeo Barberini é eleito o papa Urbano VII.
De 1624 a 1630,Galileu se dedica á escrever um livro que se trata da questão do modelo copernicano,terminada a sua obra,Galileu encontra dificuldades para publicar sua obra,o papa Urbano XII exige que reescreva o livro,depoi de muita discussão os doius entrara no acordo que o livro devia mostrar as duas concepções do universo.Galileu aceita e escreve o livro que foi publicado em 1630.
Mas mesmo assim,cinco mese depois o livro se torna proibido e Galileu é novamente advertido para não xpressar as idéias do sistema copernicano.A acusação contra o Diálogo é tripla:ela não tem a linguagem hipotética,afirmando categoricamente a mobilidade da Terra e a rigidez do Sol;por ter calculado mal o existene fluxo e refluxo do mar na estabilidade do Sol e mobilidade daTerra não existentes e ter desse modo desobedecidoá admoestação deBelarmino de 1616.
Depois disso,Galileu é obrigado a comparecer perante o tribunal e no dia 20 de janeiro,parte para Roma.Em 12 de abril começa o processo galileano,Galileu é submetido a um interrogatório e mantido prisioneiro do Santo Ofício.
Em 1633,Galileu é condenado á prisão perpétua e morre em 1642.
Reforma protestante:o início de tudo

Em 1517 o papa Leão X decretou a venda de indulgências,que assegurariam o perdão de seus pecados em troca de alguma quantis de dinheiro.O dinheiro saeria usado pra terminar as obras da Basílica de São Pedro.Na Alemanha,o monge Martinho Lutero revoltou-se com o escândalo das indulgências.Como resposta,pregou na porta da catedral de Wittenberg um documento com 95 pontos contrários aos ensnamentos e práticas católicas.Assi começou a Reforma Protestante.
Reforma Protestante-A crise religiosa
Durante a Idade Média,o poder da Igreja era quase inquestionável.mas há quem ousase discordar dos ensinamentos e da prática da Igreja,Essas pessoas eram chamadas hereges entre elas posso citar o inglês John Wiclif e o tcheco Jan Huss.
As maiores críticas se concentravam,principalmente navenda de cargos eclesiásticos,no luxo e a riqueza que viviam os mebros do alto clero e no desprepar intelectal dos padres.Esses movimentos não evoluíram por causa da falta de apoio de uma sociedade ainda dominada pelo pensamento medieval e pela repressão que os governantes faziam.
Mas no século XV,com a burguesia se fortalecendo e o interesse dos reis em aumentar seu poder as críticas á Igreja católica aumentaram por que os reis queriam aumentar seu poder mas viam na força da Igreja um obstáculo para alcançar este objetivo e os burgeses queriam acumular riquezas mas isso era proibido pela Igreja Católica,embora ela mesma fosse riquíssima e poderosa.
As maiores críticas se concentravam,principalmente navenda de cargos eclesiásticos,no luxo e a riqueza que viviam os mebros do alto clero e no desprepar intelectal dos padres.Esses movimentos não evoluíram por causa da falta de apoio de uma sociedade ainda dominada pelo pensamento medieval e pela repressão que os governantes faziam.
Mas no século XV,com a burguesia se fortalecendo e o interesse dos reis em aumentar seu poder as críticas á Igreja católica aumentaram por que os reis queriam aumentar seu poder mas viam na força da Igreja um obstáculo para alcançar este objetivo e os burgeses queriam acumular riquezas mas isso era proibido pela Igreja Católica,embora ela mesma fosse riquíssima e poderosa.
Linha do Tempo




Século XI-Crescimento comercial e urbano nas cidades italianas.
Século XIV-Transição da arte medieval para a arte renascentista,início do Trecento.
Século XV- Maturidade do Renascimento,começo do pensamento humanista.
Século XVI-Auge do Renascimento:Leonardo da Vinci,Rafael,Michelângelo,Reforma Protestante e Contra-Reforma,política mercantilista.
Renascimento cultural e artístico:como começou ?

O Renascimento cultural e artístico foi um movimento cultural que começou nas cidades italianas a partir do século XIV.O objetivo dos pensadores e artistas foi dar continuidade á obra iniciada pelos autores da Antiguidade greco-romana.Os estudiosos e artistas do Renascimento foram financiados pela rica burgesia que existia ao norte e ao centro da Península Itálica.Pra esse grupo,o financiamento de atividades artísticas era uma forma de obter status social.Além disso,essa burguesia percebeu que os objetivos culturais,artísticos e político valorizava muitos aspectos do mundo burguês.
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